Para não parecer sempre amargo e desiludido com as coisas deste país, hoje estou inovando para falar da minha neta Rafaela, de dois anos completados ontem, 25.
Rachel de Queirós escreveu com muita propriedade que netos são como heranças que você ganha sem merecer, sem ter feito nada para isso, e de repente lhe caem do céu. No texto perfeito, a escritora afirma que a vida nos dá os netos para nos compensar de todas as mutilações trazidas pela velhice. São amores novos, profundos e felizes que vêm ocupar aquele lugar vazio, nostálgico, deixado pelos arroubos juvenis. Desconfia, ainda, de que netos são melhores que namorados, pois que as violências da mocidade produzem mais lágrimas do que enlevos.
Na minha experiência de avô de primeira viagem, recorri a textos de leitura ocasional e encontrei o exemplo da menina de 9 anos, que, perguntada, disse que quando crescesse gostaria ser avó. E docemente explicou que os avós “os avós escutam, compreendem. E, além do mais, a família se reúne inteirinha na casa deles”. E a menina continuou: - “Uma avó é uma mulher velhinha que não tem filhos. Ela gosta dos filhos dos outros. Um avô leva os meninos para passear e conversa com eles sobre pescaria e outros assuntos parecidos.
Os avós
não fazem nada, e por isso podem ficar mais tempo com a gente. Como
eles são velhinhos, não conseguem rolar pelo chão ou correr. Mas
não faz mal. Nos levam ao shopping e nos deixam olhar as vitrines
até cansar. Na casa deles tem sempre um vidro com balas e uma lata
cheia de suspiros. Eles contam histórias de nosso pai ou nossa mãe
quando eram pequenos, histórias da Bíblia, histórias de uns livros
bem velhos com umas figuras lindas. Passeiam conosco mostrando as
flores, ensinando seus nomes, fazendo-nos sentir seu perfume. Avós
nunca dizem “depressa, já pra cama” ou “se não fizer logo,
vai ficar de castigo”. Quase todos usam óculos e eu já vi uns
tirando os dentes e as gengivas.
Quando a gente faz uma pergunta, os avós não dizem: “menino, não vê que estou ocupado?” Eles param, pensam e respondem de um jeito que a gente entende. Os avós sabem um bocado de coisas. Eles não falam com a gente como se nós fôssemos bobos. Nem se referem a nós com expressões tipo “que gracinha!”, como fazem algumas visitas. O colo dos avós é quente e fofinho, bom de a gente sentar quando está triste. Todo mundo deveria tentar ter um avô ou uma avó, porque são os únicos adultos que têm tempo para nós.
Logo eu, que sempre me diverti
com as caras de bobos e babões dos meus amigos avós, estou na mesma
situação, fazendo caras, bocas e gestos que antes considerava
apenas risível, quando via um deles fazendo piruetas na areia,
brincando de boneca, e servindo de cavalinho.
Pena que crescem...
Parabéns, Rafaelita, molequita do vovô.
Companheiro e amigo Luiz Saul, sua mensagem acima é linda, maravilhosa, esplêndida e com muita verdade. Meus netinhos são dois casais que vovô acha as coisas mais lindas do mundo. Ser avô é bom demais!
ResponderExcluirO amigo colaborador Luiz Saul Pereira faz com muita propriedade um relato fiel da trajetória do moderno avô que assim como o ilustre Rogério Mota, sabe onde o sapato aperta.kkkkkk
ResponderExcluir