HERÓIS E LENDAS - POR LUÍZ SAUL PEREIRA

Luiz Saul Pereira

Sobre heróis e lendas

Todas as pessoas elegem seus heróis, muitas vezes até sem o perceberem. É normal e esperado que os primeiros eleitos como tal sejam os próprios pais, que, pela natureza e característica do relacionamento, da criação, da devoção aos filhos, do exemplo que oferecem, convertem-se em ídolos naturais.

Além daqueles, tenho outros. Outros heróis aí em Triunfo. A primeira heroína chamava-se Maria de Lourdes, minha tia, que, por muitos e justificados motivos, mereceu essa classificação, na exata medida de sua dedicação à saúde dos outros, numa época em que cidade era ainda mais carente de profissionais e de meios para prover as curas.

Enfermeira, sem formação acadêmica, era acreditada, mormente pelos sitiantes, como provedora de tratamento de todos os males. Imagino que aplicou muitos placebos, tendo o “paciente” saído feliz e “curado”. Quando se frustrava o êxito da sua intervenção, e somente então, ia o paciente ao médico, ou para Serra Talhada.  Nos dias de hoje, seria certamente arguída em juízo face ao exercício ilegal da profissão, independentemente do bem praticado. Pois é...

Guardo a imagem de uma mulher pequena, ágil, quase magra, quase gorda, sempre vestida de preto, em uma azáfama constante para o bem servir, gratuitamente, ou a preços módicos que poderiam incluir poucos dinheiros ou até pequenos animais, além da gratidão de quantos assistia.

Não bastasse a generosa disponibilidade em seus dias de 24 horas, de distâncias de todos os tamanhos, vencidas por qualquer meio, ainda oferecia a sua casa como abrigo a enfermos, muitas vezes submetendo a família aos riscos de contágio. Mas nunca desistiu da missão a que se atribuíra. Não sei se logrou o reconhecimento formal da cidade. Que importa isso se o exercício do ministério vocacional é maior que o julgamento dos pares ou dos ímpares? Certamente tinha também defeitos, mas, porque  cargas d’água eu falaria deles?  Prá mim, além de heroína, virou lenda.

Com essas palavras, homenageio, também, seus irmãos Tertuliana e Emídio, meu pai.

Outro herói daí chamava-se Luiz, como eu. Mas, era apenas DUQUINHA, meu primo. Minha licença poética permitiu-me congelar a sua imagem como um jovem bonito, vaidoso, amigo, cuidadoso com as pessoas, excepcional atleta, destacando-se pela qualidade do futebol por ele praticado, e, infelizmente torcedor do Náutico. Tocava maracas na Banda Isaias Lima. Tentava cantar, mas cantar naqueles tempos era só com Zé de Dora!...

Em que pese o seu temperamento pacífico, despediu-se em uma noite de atalho do destino, em circunstâncias sombrosas e doloridas, cumulando a família e os amigos de saudades. Também virou lenda prá mim.Com tais palavras, remeto-me aos seus filhos Luiz Carlos e Roberto Carlos e às suas irmãs Nair e Dejanira .E vocês aí, têm heróis ou lendas? Falem deles, se não prá mim, falem prá vocês mesmos. Reflexão faz bem e às vezes abre recônditas gavetas do cérebro ou... do coração.

- Luiz Saul Pereira