sábado, 11 de maio de 2013

DOBRADO BARÃO DO RIO BRANCO - CRÔNICA EDNALDO BEZERRA



Fazia calor naquela sexta-feira, o sol brilhava no céu azul de poucas nuvens. Alguns pássaros cantavam, um pavão se armava; o guarda-marinha Danton saia do rancho, após o café da manhã, e observava a vegetação da Ilha das Enxadas – flores vermelhas, brancas, amarelas embelezavam-na. 

As águas da baía da Guanabara estavam tranquilas; ao longe, via-se a cidade do Rio de Janeiro, em todo o seu esplendor, sem movimentos, estática – apenas na aparência. A bandeira nacional tremulava ao sabor dos ventos, um frescor surgia repentinamente.

Na formatura matinal, o capitão Veríssimo dizia: 

Hoje à noite haverá a apresentação da Banda dos Fuzileiros Navais. Alguém é voluntário para assistir, ou vou ter que escalar? O espírito de corpo que existe nas escolas militares logo se fez mostrar; pois, a fim de que os alunos moradores da cidade do Rio de Janeiro fossem liberados, praticamente todos os mexilhões – aqueles que ficam alojados no quartel – se voluntariaram.


 À noite, Danton se aprontou com esmero, vestiu o uniforme azul, de gala; ajustou o quepe branco na cabeça, olhou-se no espelho. Imponente! Teve a impressão de estar diante de um sonho... Sou eu mesmo?


Os convidados chegavam, as cadeiras dispostas em frente ao prédio do comando possibilitavam a imagem dos músicos e da cidade iluminada, ao fundo. Militares bem fardados, mulheres bonitas, elegantes, usando vestidos coloridos – vermelhos, verdes, azuis –, cada uma mais linda do que a outra. Sente-se observado por uma moça morena, de vestido carmim, e cabelos castanhos-escuros.

Começa o espetáculo – magnífico! Tem a sensação de estar no século XVIII, numa daquelas festas pomposas das monarquias europeias. Olha para a Ilha Fiscal; depois, ao redor, vê o cenário completo, como se tudo fosse uma pintura. Apesar da música tocando, parece que há um silêncio profundo, está absorto, em si mesmo; de repente, escuta a melodia, é o dobrado Barão do Rio Branco, de Antônio Francisco Braga; à medida que é executado, seus pensamentos vão fluindo, acompanhando-o.

A música se inicia abruptamente, uma alegria triunfal no princípio, uma explosão. Danton faz analogia dela com a vida, o nascimento é assim: brusco; depois o dobrado entra num ritmo mais lento, há uma constância, os instrumentos de sopro predominam, as notas musicais se repetem – é a vida cotidiana –; ele sente uma vibração, um entusiasmo; há alternâncias sonoras, e o ritmo se eleva e cai – tal qual os momentos da existência.
 
Quando parece que tudo ia permanecer como estava, a intensidade do som vai crescendo, crescendo, e explode novamente; depois há uma parada brusca, parece o fim, a morte; mas é apenas uma nova fase da vida, a apoteose; a música ressurge numa completa harmonia, brota-lhe na alma a sensação de esperanças renovadas, sente-se feliz, contente, arrepia-se – sempre se emocionara com esse dobrado, mas por quê? Não sabe explicar. Ele permanece sonhando acordado, num devaneio, e é surpreendido com o término repentino da música – quando ainda parecia haver continuidade–, é como o fim de uma vida... 
 
A emoção parece ser geral, a Orquestra Sinfonica do Corpo de Fuzileiros Navais é ovacionada por todos, com palmas intermináveis. E o guarda-marinha, deslumbrado, olha para os músicos e percebe que eles são fundamentais na atividade militar; pois, a música alegra, faz vibrar, encoraja para a batalha, integra, dá orgulho de pertencer à Força Naval.
 
 E, quando oficial, ele constata que estava certo porque o moral, o entusiasmo, a vontade dos militares submetidos a formaturas semanais com bandas são superiores aos daqueles homens que servem nos quartéis que não se utilizam desse instrumento de alegria, de vibração, de vitalidade...
 
Aliás, Napoleão Bonaparte já dizia: “Coloque uma banda na rua e o povo a seguirá, para a festa ou para a guerra”

 

 


POR:Ednaldo Bezerra é estudante de Licenciatura em Letras na UFPE

     

5 comentários:

  1. É o prazer de dar som à vida. Adoro música e curto percussão.

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  2. Admiro bandas de música, aos ouvi-las às vezes fico emocionada, porque meu avô foi por muitos anos envolvido com tudo isso.Gostei do link.Parabéns!

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  3. Agradeço pela oportunidade de ouvir o dobrado Cisne Branco, tocado pela Banda de Fuzileiro Navais, um show maravilhoso.

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  4. Recordo a difusora do Cine Teatro Guarany tocando esse hino antes de iniciar a apresentação da película! Saudades!!!!!!

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  5. Coisa mais linda! Estou de volta ao passado ouvindo várias vezes seguidas. Obrigado!

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