Fazia
calor naquela sexta-feira, o sol brilhava no céu azul de poucas
nuvens. Alguns pássaros cantavam, um pavão se armava; o
guarda-marinha Danton saia do rancho, após o café da manhã, e
observava a vegetação da Ilha das Enxadas – flores vermelhas,
brancas, amarelas embelezavam-na.
As águas da baía da Guanabara
estavam tranquilas; ao longe, via-se a cidade do Rio de Janeiro, em
todo o seu esplendor, sem movimentos, estática – apenas na
aparência. A bandeira nacional tremulava ao sabor dos ventos, um
frescor surgia repentinamente.
Na formatura matinal, o capitão Veríssimo dizia:
Hoje
à noite haverá a apresentação da Banda dos Fuzileiros Navais.
Alguém é voluntário para assistir, ou vou ter que escalar? O
espírito de corpo que existe nas escolas militares logo se fez
mostrar; pois, a fim de que os alunos moradores da cidade do Rio de
Janeiro fossem liberados, praticamente todos os mexilhões –
aqueles que ficam alojados no quartel – se voluntariaram.
À noite, Danton se aprontou com esmero, vestiu o uniforme azul, de gala; ajustou o quepe branco na cabeça, olhou-se no espelho. Imponente! Teve a impressão de estar diante de um sonho... Sou eu mesmo?
Os
convidados chegavam, as cadeiras dispostas em frente ao prédio do
comando possibilitavam a imagem dos músicos e da cidade iluminada,
ao fundo. Militares bem fardados, mulheres bonitas, elegantes, usando
vestidos coloridos – vermelhos, verdes, azuis –, cada uma mais
linda do que a outra. Sente-se observado por uma moça morena, de
vestido carmim, e cabelos castanhos-escuros.
Começa
o espetáculo – magnífico! Tem a sensação de estar no século
XVIII, numa daquelas festas pomposas das monarquias europeias. Olha
para a Ilha Fiscal; depois, ao redor, vê o cenário completo, como
se tudo fosse uma pintura. Apesar da música tocando, parece que há
um silêncio profundo, está absorto, em si mesmo; de repente,
escuta a melodia, é o dobrado Barão do Rio Branco, de Antônio
Francisco Braga; à medida que é executado, seus pensamentos vão
fluindo, acompanhando-o.
A
música se inicia abruptamente, uma alegria triunfal no princípio,
uma explosão. Danton faz analogia dela com a vida, o nascimento é
assim: brusco; depois o dobrado entra num ritmo mais lento, há uma
constância, os instrumentos de sopro predominam, as notas musicais
se repetem – é a vida cotidiana –; ele sente uma vibração, um
entusiasmo; há alternâncias sonoras, e o ritmo se eleva e cai –
tal qual os momentos da existência.
Quando parece que tudo ia
permanecer como estava, a intensidade do som vai crescendo,
crescendo, e explode novamente; depois há uma parada brusca, parece
o fim, a morte; mas é apenas uma nova fase da vida, a apoteose; a
música ressurge numa completa harmonia, brota-lhe na alma a sensação
de esperanças renovadas, sente-se feliz, contente, arrepia-se –
sempre se emocionara com esse dobrado, mas por quê? Não sabe
explicar. Ele permanece sonhando acordado, num devaneio, e é
surpreendido com o término repentino da música – quando ainda
parecia haver continuidade–, é como o fim de uma vida...
A
emoção parece ser geral, a Orquestra Sinfonica do Corpo de
Fuzileiros Navais é ovacionada por todos, com palmas intermináveis.
E o guarda-marinha, deslumbrado, olha para os músicos e percebe que
eles são fundamentais na atividade militar; pois, a música alegra,
faz vibrar, encoraja para a batalha, integra, dá orgulho de
pertencer à Força Naval.
E, quando oficial, ele constata que estava
certo porque o moral, o entusiasmo, a vontade dos militares
submetidos a formaturas semanais com bandas são superiores aos
daqueles homens que servem nos quartéis que não se utilizam desse
instrumento de alegria, de vibração, de vitalidade...
É o prazer de dar som à vida. Adoro música e curto percussão.
ResponderExcluirAdmiro bandas de música, aos ouvi-las às vezes fico emocionada, porque meu avô foi por muitos anos envolvido com tudo isso.Gostei do link.Parabéns!
ResponderExcluirAgradeço pela oportunidade de ouvir o dobrado Cisne Branco, tocado pela Banda de Fuzileiro Navais, um show maravilhoso.
ResponderExcluirRecordo a difusora do Cine Teatro Guarany tocando esse hino antes de iniciar a apresentação da película! Saudades!!!!!!
ResponderExcluirCoisa mais linda! Estou de volta ao passado ouvindo várias vezes seguidas. Obrigado!
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