sábado, 27 de junho de 2015

ABRINDO JANELAS - POR FERNANDO ALENCAR


Abro uma das janelas do passado e vejo a casa de número 84 onde morávamos, ela era grande e muito fria no inverno, além de escura, ficava na rua do quartel, entre a casa de Seu Quirino e a de madrinha Regina.Estava situada bem no meio da ladeira que era pavimentada com umas pedras que vim, a saber, depois, que se chamavam "cabeça de negro", um pouco mais abaixo do outro lado ficava a casa do pai de uma menina chamada Auxiliadora, na frente tinha um pé de Macaíba e depois a Cadeia Pública, com seus muros altos feitos de pedras e grossos, onde aprendi a jogar Sueca, pife e outros jogos de cartas que esqueci.
Através de outra janela me vem à lembrança da perigosa brincadeira de escorregar num pedaço de tabua, ensaboado; era comum quando começava escurecer, a disputa para ver quem conseguia melhor lugar na largada, como se fosse um gridtodos se perfilavam em frente à bodega de Seu Luiz que era ao lado da casa da mãe de Seu Budin, dono do único cabaré da cidade, O Gato Preto; ganhava quem conseguisse chegar primeiro em frenteà Igrejinha do Rosário, que ficava na Praça Siqueira Campos - Até que era uma rua arborizada, com alguns pés de Algaroba, Castanholas e Inga-rosa. À noite principalmente, quando tinha lua cheia, lá pelas nove horas juntava toda a molecada em frente à casa de Seu Boinha, todos ficavam na calçada a contar historias e comentar as peripécias do dia.

Foi por essa época que começou a surgir os apelidos da turma; por ter feito uma cirurgia no maxilar me rendeu o apelido de Artista do Queixão, Lalá que tinha caído do jegue e quebrado o braço, ficou sendo o Braço de Radiola, já o Edson Maninho, - bom, um belo dia de reunião na calçada, alguém soltou um "pum", como ninguém se entregou e ele foi o que mais reclamou, e era o mais moreninho de todos, ficou sendo o Maninho Bufa-Preta.

Talvez fosse a rua mais animada, depois da Rua Grande,a principal da cidade; tinha também pessoas únicas, como: Dona Marcionilia que todos só acertavam chamá-la de Maçunila que era a esposa de Seu Quirino a quem tínhamos que tomar a benção como se fossem nossos avos, Dona Zefa que todos os filhos o nome começava com a letra "M", Dona Irene que era muito especial pra todos nós, especialmente para mim.Nesta rua todas as casas tinham fogueira no São João, algumas delas passavam o resto do mês queimando, até chegar o São Pedro. Como não podíamos beber licor, era uma festa tomar capilé com bolo de milho, pamonha e todas as iguarias da época, e o resto da noite era só pra jogar bomba nas fogueiras de quem já tinha ido dormir.

Achego-me a outra janela e vejo a minha rua pelos fundos; o quintal da minha casa fazia fundo com o Lageiro da Barriguda, tem no meio a privada e no fim um chiqueiro de porco, quando começava as moagens eu ia pegar “tiborna” no engenho de Seu Antonio Henrique, que era pra engordar o porco.


Eram três quintais abertos, sem cercas nem muros, com muitas arvores no fundo, algumas mangueiras, pés de pinha, abacates, seriguela, e uma aroeira enorme no de Dona Irene, sem contar as duas cacimbas.Por esses tempos aconteceu também á mudança nas“guerras de espadas", que saíram das ruas e foram para os Lageiros de Zeinha e da Barriguda ou para o Curral da matança.


Uma das janelas que o passado também me mostra é a escola da maioria, Escola São Francisco de Pádua, novinha, ela ficava na rua do lageiro que ia dar no Cruzeiro, lá era servido um mingau feito de fubá de milho com um leite achocolatado, esse leite segundo diziam, vinha da Alemanha em uns sacos parecendo farinha de trigo. Nas quarta-feiras e domingos o gado que não era abatido para a feira, era levado ao açude pra beber água, e algumas vezes uma rês se desgarrava das outras e descia a rua numa carreira só, era uma algazarra sem tamanho dos cachorros de Seu Boinha e de todos que se propunham a ajudar a conduzir as reses nesse trajeto de ida e volta. Não era aconselhável ficar no meio da rua nessas horas.


As janelas do nosso passado são como rasgos no tempo, sem trancas nem tramelas,por onde entramos sem que possamos impedir sentimentos variados.
Para o meu amigo de infância, Maninho, com carinho.


Por: Fernando Alencar

Um comentário:

  1. A seleção do fluminense era formada por: Paulo Lima, Ildo Curuçu, Lala, Maninho, Ronaldão, Carlos Ferraz, Guiado, Fidinha, Dida de Fausto, Miltinho e Antônio Orlando de Boim, não consegui reconhecer apenas dois jogadores desta foto.
    Os mesmos parecem ser; Titô e Bosquinho de Fidia

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