Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) fazem na noite dete domingo o segundo debate das eleições presidenciais. O encontro foi realizado na "RedeTV", numa pareceria com o jornal "Folha de S. Paulo". A petista levou para mesa, durante os dois primeiros blocos, o tema privatização com bastante constância. Já o tucano afirmou que o PT e candidata mentem "o tempo todo" nas propagandas eleitorais sobre suas ações e intenções sobre a Petrobras.
O embate ficou mais quente quando os jornalistas questionaram os candidatos sobre as últimas denúncias de corrupção que envolvem pessoas próximas aos dois. Serra se disse vítima de Paulo Preto, enquanto Dilma rebateu dizendo que puniu Erenice e que seu adversário não investigou o ex-assessor. O tema educação também deu o que falar entre os dois. Dilma afirmou que o tucano vai acabar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), mas tucano negou, dizendo que o exame precisa ser refeito.
No final do quarto bloco, a petista teve um direito de resposta negado pela comissão do debate. "Ele disse que eu sou a favor da inflação", disse a candidata. Novamente assuntos como transporte público, Copa do Mundo e Olimpíadas foram esquecidos. Desta vez, também foi deixado de lado o tema saneamento básico. Além disso, os assuntos sobre aborto e religião, constantemente abordado pelos candidatos na campanha, também não foram abordados.
Ambos os candidatos desviaram de vários assuntos, deixando-os sem respostas, principalmente nos dois primeiros blocos. Nos blocos seguintes, com acusações mais diretas e temas mais específicos, as respostas foram inevitáveis.
Primeiro bloco - Privatizações
No primeiro bloco, Dilma e Serra fizeram perguntas entre si. E a candidata do PT questionou Serra sobre a empresa Gás Brasiliano, que segundo ela foi colocada à venda, e que o governo de Sãu Paulo negou oferta da Petrobras, dando preferência a oferta mais baixa de empresas internacionais.
"A Petrobras ofereceu o melhor preço. Mesmo dando maior preço, por que a Agência Reguladora e a secretária de energia não são favoráveis à compra? Primeiro porque o preço é maior, segundo porque é a Petrobras, uma empresa brasileira", questionou Dilma
Serra respondeu da seguinte forma: "Na véspera da eleição voltam com o tema privatização. Não há no Brasil hoje empresas que precisem ser privatizadas. No que se refere às telecomunicações, a candidata Dilma diz que a achou muito boa. Mas o PT na época foi contra. Não se teria telefone celular como se tem."
No final, o tucano ainda falou que a petista mente em suas propagandas em relação às suas ações sobre a Petrobras.
Segundo bloco - combate às drogas e violência
Depois, o debate foi sobre combate às drogas. Dilma falou sobre cracolândias em São Paulo, enquanto tucano falou que combate nas fronteiras não são eficientes.
"O Ministério da Justiça colocou como meta que a taxa de homicídio deveria cair para 12%, e isso não aconteceu. A segurança piorou em vários estados. São contra a criação de clínicas para atender dependentes químicos. Nós apoiamos as comunidades terapêuticas", argumentou Serra.
Em sua resposta, Dilma disse que é a favor da criação de unidades para o tratamento de dependes químicos. "Apoiamos também a criação das clínicas. Minha proposta é sim criar clínicas para os dependentes. O candidato Serra tem a mania de dizer que o governo federal fez menos. Ele faz programas pilotos. Pouco para poucos", disse.
Sobre a segurança pública, o tucano destacou "melhora em São Paulo", mas não convenceu a petista. "A candidata está seguindo a fórmula do José Dirceu, do Mercadante. Vive falando mal de São Paulo. O esporte preferido é falar mal de São Paulo. A taxa de criminalidade caiu 70% nos últimos dez anos no estado", disse Serra.
"O candidato fala muito quando se trata de governo federal. A população sabe o que são as cracolâncias. Não há um combate efetivo às drogas. Quem combate é a Polícia Federal, que faz apreensões sistemáticas", acrescentou a petista.
Terceiro bloco - Erenice Guerra e Paulo Preto
Na terceira parte do debate, quando jornalistas fizeram perguntas aos candidatos, os nomes Erenice Guerra e Paulo Preto dominaram. O tucano se disse vítima no caso que envolve ex-assessor, enquato a tucana afirmou que Erenice foi punida e houve investigação.
O primeiro a responder foi Serra: "Disseram que alguém tinha recebido uma contribuição para minha campanha e não foi entregue. Eu sou a vítima. Não foi dinheiro público, foi contribuição para campanha. Disseram que era o Paulo Souza. Quando perguntaram para mim se referiram como Paulo Preto. E assim eu realmente não o conhecia. Não tem nada a ver isso com negar o mensalão."
Depois, foi a vez de Dilma. "Nós investigamos e afastamos a Erenice. Isso significa que nós apuramos aquilo que acontece. Nós temos uma diferença, nós investigamos. Serra esquece que a 'Veja' disse que o senhor Paulo está na operação Castelo de Areia. Não me consta que isso foi investigado. Essa notícia é de maio, não é de ontem."
Quarto bloco - Saúde e educação
Sobre o tema, Dilma prometeu a criação de mais 500 Unidades de Pronto-Atendimento, as chamadas UPAs, em todo o país. Serra criticou, dizendo que as propostas da candidata para a área já exisitiam, e que o atual governo pouco fez nos oito anos. Em resposta, Dilma afirmou que FHC entregou um "governo de miséria".
"Eu consolidarei o SUS. Eu defendo consultas especializadas e exames especializados. Defendo as UPAs 24 horas. Proponho criar mais 500 em todo o país", acrescentou a petista.
Em seguida, Serra fez suas críticas: "Vai anunciar para o futuro o que tiveram oito anos para fazer e não fizeram. São experiências que já existiam. Por que não fizeram, por que não estimularam as prefeituras? Por que deixaram a Aids andar para trás? É uma perda de prioridade."
Logo depois começou um extenso embate sobre educação. Dilma acusou Serra de querer acabar com o Enem, e este devolveu dizendo que não irá acabar com a prova, e sim revê-la. O tucano elogiou o desempenho de São Paulo com base no Ideb. A petista rebateu.
"Não subestime a inteligência do povo paulista. A nota do Ideb é boa porque 50% dela está baseada na aprovação automática. A mãe de São Paulo sabe que a criança não tem um desempenho satisfatório. O Enem é um caminho e pré-condição para o Prouni. Houve um crime. Ele quer acabar com o Enem, e assim acaba também com o Prouni", avaliou Dilma.
Serra disse que não pretende acabar com o exame, e voltou a dizer que houve melhora na educação de São Paulo: "Claro que tem plano de carreira, claro que a educação melhorou, claro que tem incentivo ao mérito. Essas questões da educação têm que melhorar, mas elas estão caminhando. A questão do emprego tem que ser levada em conta com a taxa de crescimento da economia."
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Dilma Rousseff: "Fico orgulhosa de estar nessa campanha com o maior presidente que esse país já teve. Quero dizer que esse país é feito por brasileiros e brasileiras com grande capacidade de realização. Temos também uma cultura de paz, que é a base do país. Eu tenho várias prioridades. Temos que valorizar a educação de qualidade, com o professor com salário digno e sendo respeitado. Vamos fazer um país que respeite a biodiversidade. Para sermos desenvolvidos precisamos desenvolver nossa educação e cultura. Vai ser um governo voltado para a pessoa humana. Todos, de todas as etnias serão respeitados no meu governo. Estou preparada para ser presidente da República."
José Serra: "Para mim, é motivo de muito orgulho me apresentar como candidato. Venho de muito longe, de uma família pobre. Aprendi valores. Em campanha, não importam apenas as obras e as coisas concretas que se façam. É preciso levar em conta os valores. Na vida pública sempre me pautei pela solidariedade. Sempre fui um servidor público. Quem está no comando tem que servir ao público, e não se servir dele. O brasil já está na hora de ser gigante pela própria natureza. Uma natureza que permita que façamos todos os avanços necessários. Temos que ter um pacto nacional da educação. Venho aqui pedir o seu voto. Se já vota em mim, conquiste um voto a mais. Até o dia 31 de outubro, ganhar pelo Brasil."